Por Ana Kessler
Quando eu engravidei e soubemos que era uma menina, uma das
primeiras exclamações do pai da Ana Beatriz foi: “Só vai namorar quando fizer
18 anos!”. Ele falou sério, eu ri. Pensei “pobres homens que têm filhas
mulheres, passam a vida com medo que elas cresçam”. Afinal, entregar a mão da
sua princesinha para outro “macho” da espécie não deixa de ser uma queda de
braço com sabor de derrota. Quem será o herói dela agora?
Não sei se a Ana Bia, no aconchego do meu útero, ouviu a
conversa e achou graça também. E veio ao mundo levando tudo na esportiva,
inclusive os assuntos do coração. Mas fato é que talvez as crianças lidem muito
melhor (e de forma mais pura) com namoros do que muitos adultos por aí.
Na escolinha do Rio de Janeiro, então com 5 anos, a Bia era
apaixonada pelo tal do Vitor. Desenhava cartões em forma de corações para o
menino. Escrevia o nome dele e grudava com ímã na geladeira. Comprava
presentes, picolés, emoldurava fotos. Era Vitinho pra lá, Vitinho pra cá. Até
que um dia...
Bia: Mãe, tenho
uma novidade que você não vai gostar.
Mãe: Ãhm.
Bia: Eu estou
namorando o João Vitor.
Mãe: Quem?
Bia: O João, mãe,
aquele loirinho, dessa altura, sabe?
Mãe: Ué, mas você
não gostava do Vitinho? O que aconteceu?
Bia: Ah, mãe, o
Vitinho não gosta de mim.
Mãe: Como você
sabe?
Bia: Além do
mais, o Vitinho tem uma namorada MAIS VELHA.
Mãe: Mais velha?
Quem, a tua colega Gigi?
Bia: Não. Uma
menina de fora da escola.
Mãe: Ele falou?
Bia: Falou.
Mãe: E você gosta
do João Vitor?
Bia: Mãe, o João
Vitor me AMA! Ele vive me pegando no colo.
Mãe: No colo? E
você gosta disso?
Bia: Não. Mas eu
vou me acostumar...
Gostar de quem gosta da gente é um ótimo começo. Mas só
gostar de alguém por que essa pessoa gosta da gente, hum, sei não. De qualquer
forma, procuro deixar a minha filha livre para trabalhar os próprios
sentimentos e exercitar o “gostar” dentro do seu coraçãozinho. Entro no
circuito só para orientar, jamais para julgar. Não incentivo, mas não vejo mal
nenhum em ela ter namoradinhos. Afinal, como a Bia mesmo diz: “É namoro de
criança, mãe”.
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