por Teresa Cristina Pascotto
Medo... nosso companheiro de longa estrada. No momento de nosso nascimento, ele já estava ali para nos "saudar", nos esperando de braços abertos, tranquilo por saber que nunca o deixaríamos. Somente o medo não sente medo de ser abandonado, ele sabe que estará sempre conosco, por toda a nossa vida. Fomos crescendo e experimentando a vida e aprendemos que em determinadas circunstâncias, o medo se faz mais presente e mais assustador, e em outras situações, ele aparece de forma sutil, quase imperceptível, mas nunca deixa de estar presente, principalmente, nos momentos mais importantes e cruciais de nossa vida. Sem termos consciência, fizemos do medo nosso "termômetro" para medir a importância das circunstâncias, ou seja, quanto mais "alta a temperatura" (de certa forma, o medo nos traz uma onda de calor intenso) que o medo manifesta, mais importante é a situação. Se o medo não for intenso, acreditamos que a situação não é muito boa e não a consideramos muito. Sentir medo é algo muito desagradável, as sensações são muito ruins.
O medo consciente e aceito, logo se dissipa, mas o medo inconsciente e não aceito, sempre nos traz mais malefícios. Por acreditarmos que sempre sentiríamos medo e por sabermos que sentir medo é algo horrível e angustiante, tivemos que criar uma estratégia de sobrevivência ao medo e passamos então a associar uma corrente de "prazer" ao medo, ou seja, passamos, inconscientemente, a gostar do medo. Isso quer dizer que viramos "masoquistas" e, mesmo sentindo as sensações terríveis de medo, gostamos disso e passamos a criar mais e mais circunstâncias que nos tragam muito medo. Quanto mais medo, melhor. Por exemplo, num caso mais extremo, existem pessoas que apreciam mais declaradamente as sensações de medo, são aquelas que adoram filmes de terror ou outras "diversões" que lhes provoquem muito medo. Estas, pelo menos, são mais conscientes de que gostam de sentir medo. Mas a grande maioria de nós está totalmente inconsciente do quanto gosta de sentir medo.
Criamos problemas e dificuldades onde não existem, só para ficarmos preocupados, ansiosos e... com muito medo de ter ou de perder ou de não conseguir, não importa o que desejemos, sempre convidamos o medo a se manifestar em nossa vida. Infelizmente, nossa vida é rodeada, baseada e permeada pela energia do medo. Nosso lado masoquista não suporta viver sem os "prazeres" que o medo proporciona.
Quando fazemos o caminho do autoconhecimento, aprendemos a lidar com o medo e começamos a confrontá-lo e a superá-lo em certa "dose", deixando de gostar do medo, o que nos leva a avançar. Quanto mais avançamos, mais prontos vamos ficando para enfrentarmos a vida, com medo ou sem medo. Entendemos que o medo faz parte da existência humana e, ao invés de fugirmos ou lutarmos, passamos a caminhar com o medo junto de nós. Isso nos leva cada vez mais adiante, até que chegamos a um ponto em que uma etapa extremamente significativa em nosso processo de transformação chega ao final de seu ciclo, colocando-nos em um nível de consciência mais elevado, onde estaremos sintonizados com dimensões superiores, onde tudo acontece de forma natural e espontânea. Podemos dizer que não sentimos mais medo das "coisas e circunstâncias" das quais sentíamos antes. O ego pressente que nesse nível ele não conseguirá mais nos afetar e nos frear lançando "mísseis de medo", ele sente que os medos antigos não nos afetarão mais como sempre nos afetaram. O ego entra em desespero, pois ele só aprendeu a viver sob o domínio do medo e aprendeu a gostar e se viciou nessa energia de medo... Como poderemos viver, num outro nível de consciência, sem sentirmos a experiência avassaladora do medo para nos interditar?
É neste ponto, impulsionado pelo desespero de perder mais do poder sobre nós, que o ego inventa uma nova modalidade de medo: cria o medo de não sentirmos mais medo. Depois de termos superado muito de nossos medos, não esperamos sentir mais medo nesse momento de tamanho avanço e é por isso que não compreendemos o que está ocorrendo conosco quando, neste ponto de nosso processo, tudo começa a paralisar, estagnar, esvaziar. Ficamos confusos, não era para isto acontecer. Antes, quando sentíamos medo, a paralisação era até algo "normal", mas agora que não estamos mais sentindo medo do que virá a seguir em nossa vida, não faz sentido esta estagnação. A habilidade que o ego tem de criar interdições veladas é impressionante. Poderíamos esperar tudo, até mesmo alguns resquícios de medos antigos, ou uma paralisação ou esvaziamento como forma de fazermos alguns reajustes internos, para nos adaptarmos às mudanças que ocorreram em nós, para nossa próxima etapa de vida... mas sentir medo de perdermos o medo da vida é algo que jamais imaginaríamos experimentar!
Para conseguirmos perceber essa sutil e poderosa estratégia do ego, basta que prestemos atenção ao que está acontecendo dentro de nós, quando tudo começar a parar de fluir. Ao levarmos nossa atenção ao que ocorre dentro de nós, começaremos a sentir algo muito familiar... sensações de medo! Quanto mais prestamos atenção, mais o medo vai se intensificando. Se deixarmos acontecer, com auto-acolhimento e aceitação, essa onda de energia aumentará, ficaremos "pegando fogo" de tanta energia de medo. Devemos ficar firmes, dando passagem à energia, sem tentarmos fugir ou frear esse fluxo, afinal, já fizemos isso inúmeras vezes durante nosso processo, com a diferença que neste ponto essa energia de medo é "nova", pois foi criada pelo ego como último recurso desesperado para nos interditar. Mas medo é medo, então, é só aguentarmos o fluxo, que o medo irá se dissipando, talvez demore um pouco mais, pois o ego caprichou na dose e na estratégia, fomos pegos de surpresa e este fator tem sempre um grande poder. Talvez venhamos a ficar incomodados e estranhos durante alguns dias, mas com a consciência e aceitação desse acontecimento dentro de nós, estaremos em nosso poder pessoal, enquanto a energia de medo vai se dissipando e o ego vai percebendo que foi pego em flagrante lançando esse míssil de medo e aceitando que quando é pego em flagrante, sempre perde o poder sobre nós. Tudo irá se ajustando e as energias se equalizando, voltando ao estado mais elevado novamente, até que percebemos que não estamos mais sentindo medo. Estaremos prontos novamente, mas muito mais fortalecidos por essa experiência.
Isto terá sido muito valioso, pois agora saberemos que o ego é capaz de tudo e que poderá gerar "novos medos" mais adiante. Ter consciência dos recursos do ego, sempre nos faz resgatar mais de nosso poder. Assim, aliviados por termos resolvido essa questão, recuperamos nossas forças, respiramos tranquilos e aguardamos para que as energias voltem a fluir de forma mais plena e poderosa, nos colocando novamente diante daquele ponto, em que estávamos prestes a dar o salto para outro nível de consciência. Será apenas uma questão de momento, até que voltemos a sentir a deliciosa brisa da bem-aventurança chegando a nós. A partir disso, é só deixar fluir...
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