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“Enquanto não superarmos a ânsia do amor sem limites, não podemos crescer emocionalmente.

Enquanto não atravessarmos a dor de nossa própria solidão, continuaremos a nos buscar em outras metades. Para viver a dois, antes, é necessário ser um.” (Fernando Pessoa)

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O caráter nas relações amorosas


por Flávio Bastos

O caráter é um conjunto de virtudes, hábitos e vícios que o espírito traz consigo quando renasce para mais uma experiência na dimensão física. Durante a infância e conforme a educação recebida, este conjunto sofre uma alteração que influencia positiva ou negativamente o comportamento do indivíduo na fase adulta.
No mundo atual, o caráter nem sempre é considerado como importante quesito nas relações amorosas que se iniciam. Os interesses ou as carências associadas ao emocional da pessoa superam a razão, ou seja, a necessidade de uma avaliação mais criteriosa do parceiro ou da parceira durante a primeira fase do relacionamento.

E quando ocorrem descuidos a respeito do caráter-personalidade das pessoas envolvidas em uma proposta de relacionamento estável, as surpresas negativas tornam-se inevitáveis com o passar do tempo. Situações que proporcionam níveis de desgosto e de arrependimento, e que pode levar a relação ao desgaste e ao fracasso.

Nesta direção, as novas gerações são atraídas para as relações de aventura até enquanto durar o envolvimento. No entanto, muitas experiências aventureiras acabam em compromisso sem os envolvidos se conhecerem o suficiente para assumirem responsabilidades em comum. E quando resolvem morar juntos aparecem as incompatibilidades e o caráter se mostra como ele é, sem disfarces.

Com a crise de valores ético-morais que envolveu o mundo moderno nas últimas décadas, fica cada vez mais difícil encontrar "pessoas de caráter" como se referiam os antigos. A estrutura familiar sofreu um abalo e as rachaduras permanecem expostas. Situação que repercute na formação dos jovens que já não encontram em muitos lares,  ambiente favorável para a internalização de valores compatíveis com o modelo de bom caráter.

Portanto, em razão da crise de valores que envolve a sociedade e, basicamente, a família, torna-se situação de risco apostar em compromisso sério, após vivenciar uma curta relação de característica passional em que o emocional praticamente anulou o sentido de racionalidade da experiência.

Por não ter conhecido suficientemente o outrem na fase passional-aventureira, muitos casais se separam na fase seguinte, quando arriscam uma relação de compromisso e são surpreendidos com a revelação dos "pontos fracos" de um indivíduo ou de ambos, o que compromete a qualidade e a estabilidade da experiência.

Atualmente, o indivíduo que reúne qualidades de um bom caráter é como se fosse "joia rara" a ser encontrada, tal o seu valor no mercado dos relacionamentos amorosos. Afirmação correta? Nem tanto, porque por incrível que pareça, essa "preciosidade" não é suficientemente valorizada no âmbito dos relacionamentos amorosos. E a mídia tem contribuído no sentido de passar aos jovens a imagem de que o mais importante é viver cada momento intensamente como se fosse o último. Até o segundo momento, quando "baixa a poeira da paixão" e a face obscura do outrem é revelada à luz da verdade.

A vida é busca do equilíbrio entre a paixão e a razão. Quando não seguimos essa orientação natural, saímos do foco vital e nos submetemos à ação de energias psíquicas que podem proporcionar prazer a curto prazo, mas que a médio prazo cobram o preço da dor. Valorizar o caráter nas relações afetivas ou amorosas não é caretice ou pieguice, mas uma forma verdadeira de valorizar a si próprio, o outrem e a própria vida como perspectiva de crescimento integral.
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