por Flávio Bastos
O caráter é um conjunto de virtudes, hábitos e vícios que o espírito
traz consigo quando renasce para mais uma experiência na dimensão física.
Durante a infância e conforme a educação recebida, este conjunto sofre uma
alteração que influencia positiva ou negativamente o comportamento do indivíduo
na fase adulta.
No mundo atual, o caráter nem sempre é considerado como importante
quesito nas relações amorosas que se iniciam. Os interesses ou as carências
associadas ao emocional da pessoa superam a razão, ou seja, a necessidade de
uma avaliação mais criteriosa do parceiro ou da parceira durante a primeira
fase do relacionamento.
E quando ocorrem descuidos a respeito do caráter-personalidade das
pessoas envolvidas em uma proposta de relacionamento estável, as surpresas
negativas tornam-se inevitáveis com o passar do tempo. Situações que
proporcionam níveis de desgosto e de arrependimento, e que pode levar a relação
ao desgaste e ao fracasso.
Nesta direção, as novas gerações são atraídas para as relações de
aventura até enquanto durar o envolvimento. No entanto, muitas experiências
aventureiras acabam em compromisso sem os envolvidos se conhecerem o suficiente
para assumirem responsabilidades em comum. E quando resolvem morar juntos
aparecem as incompatibilidades e o caráter se mostra como ele é, sem disfarces.
Com a crise de valores ético-morais que envolveu o mundo moderno
nas últimas décadas, fica cada vez mais difícil encontrar "pessoas de caráter"
como se referiam os antigos. A estrutura familiar sofreu um abalo e as
rachaduras permanecem expostas. Situação que repercute na formação dos jovens
que já não encontram em muitos lares,
ambiente favorável para a internalização de valores compatíveis com o
modelo de bom caráter.
Portanto, em razão da crise de valores que envolve a sociedade e,
basicamente, a família, torna-se situação de risco apostar em compromisso
sério, após vivenciar uma curta relação de característica passional em que o
emocional praticamente anulou o sentido de racionalidade da experiência.
Por não ter conhecido suficientemente o outrem na fase
passional-aventureira, muitos casais se separam na fase seguinte, quando
arriscam uma relação de compromisso e são surpreendidos com a revelação dos
"pontos fracos" de um indivíduo ou de ambos, o que compromete a
qualidade e a estabilidade da experiência.
Atualmente, o indivíduo que reúne qualidades de um bom caráter é
como se fosse "joia rara" a ser encontrada, tal o seu valor no mercado
dos relacionamentos amorosos. Afirmação correta? Nem tanto, porque por incrível
que pareça, essa "preciosidade" não é suficientemente valorizada no
âmbito dos relacionamentos amorosos. E a mídia tem contribuído no sentido de
passar aos jovens a imagem de que o mais importante é viver cada momento
intensamente como se fosse o último. Até o segundo momento, quando "baixa
a poeira da paixão" e a face obscura do outrem é revelada à luz da
verdade.
A vida é busca do equilíbrio entre a paixão e a razão. Quando não
seguimos essa orientação natural, saímos do foco vital e nos submetemos à ação
de energias psíquicas que podem proporcionar prazer a curto prazo, mas que a
médio prazo cobram o preço da dor. Valorizar o caráter nas relações afetivas ou
amorosas não é caretice ou pieguice, mas uma forma verdadeira de valorizar a si
próprio, o outrem e a própria vida como perspectiva de crescimento integral.
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